Um Novo Brasil turístico

Publicado por Marco Navega em 22 de maio de 2015
O turismo passou completamente despercebido nos debates das eleições presidenciais e do governo do estado do Rio. Tive a ligeira impressão que não fazia parte das prioridades e não merecia assim ser alvo de discussão e de questionamento. Tal fato mostra que ainda não há sequer um entendimento da importância econômica do setor por parte daqueles que nos governam. Embora a criação de um Ministério e de uma Secretaria de Estado sejam pontos importantes, o setor foi gerenciado por políticos (que vislumbravam a reeleição) nos últimos anos, excetuando nos últimos meses. O Brasil vive de grandes planos nacionais de turismo, que gastam dinheiro público e tempo, mas que pouco colaboram com o aumento de turistas estrangeiros, por exemplo, que não passa de seis milhões e que não representam nem 1% de todos aqueles que viajam. Falta investimento e menos discurso e fóruns de participação coletiva. Minha grande vontade é que 2015 nasça com um Turismo fortalecido, embora esteja perdendo um pouco as esperanças. Vejo que o setor público é muito bom para contratar shows e fazer obras em estádios, mas muito deficiente para obras vitais necessárias. Um dos primeiros pontos que merece uma análise mais profunda é a questão das políticas de estruturação de produtos turísticos, que deve se basear em capacitação, infraestrutura, segurança e promoção. Cursos de idiomas que duram uma semana e que depois engrossam relatórios de prestação de contas não atingem nenhum objetivo palpável. Capacitar significa adequar mão de obra à prestação de serviço globalizada, buscando padrões de competitividade. É o serviço, um dos grandes diferenciais da sobrevivência hoje. Não seria o caso do governo incentivar a conscientização turística nas escolas, programas de atendimento ao consumidor final e preparação das forças de segurança para o turismo? Um grande programa de capacitação demanda escolas técnicas preparadas com corpo docente oriundo do mercado laboral e verdadeiros laboratórios dentro das instituições. Não podemos formar no cuspe e giz, como tem ocorrido nos últimos programas. Fora as faculdades de Turismo, que passam por uma situação de penúria, com cada vez menos alunos e menos interesse por salários (em algumas áreas não atrativos). Não seria o momento de criar um conselho nacional de capacitação turística para centralizar atividades desenvolvidas em tantas áreas governamentais que perdemos o controle? A promoção também não conseguiu aumentar o número de turistas e o discurso chapa branca que hoje temos, turista de melhor qualidade não é a resposta que vem dos operadores de receptivo. O marketing tem que trabalhar o mercado nacional com mais ênfase e destacar mercados prioritários, utilizando também nossos consulados e embaixadas no exterior para informação e realização de workshops e participação em eventos. Não seria o caso de incluir na formação dos diplomatas uma matéria voltada ao turismo e ao marketing turístico? Seria uma formação complementar, que muito ajudaria a imagem do Brasil, pela alta qualidade e competência de nossos diplomatas. Um fator decisivo para o sucesso turístico do Brasil é a sinalização turística através de um grande programa do governo federal. Não seria o caso de priorizar tal atividade, levando em consideração que quase 65% dos turistas que nos visitam, chegam aqui por conta própria? Poderiam iniciar com um case de sucesso tematizado em um estado brasileiro, como por exemplo, a região do Vale do Café, no Rio de Janeiro, e partir para um programa nacional. Acho que precisamos de um 2015 com vontade política, com pequenas providências, não pensando apenas em obras faraônicas de estádios sem serventia após a Copa ou aeroportos de primeira linha em cidades sem fluxo real de passageiros. Sonho com um Brasil turístico, de forma que tenhamos orgulho de nossa alegria, que tanto encanta o mundo, mas que carece de uma gestão racional e prioritária em nossas políticas públicas. * Bayard Do Coutto Boiteux é professor do curso e MBA em Turismo da UCAM, preside o Site Consultoria em Turismo e gerencia o setor de Turismo do Preservale.