Publicado por Marco Navega em
1 de setembro de 2016
Quem pede doação deve estar sob risco da prisão? Segundo uma nova legislação dos Emirados Árabes Unidos, a resposta é sim. Lá, como vocês poderão ver em notícia deste Boletim, um captador voluntário ficou um mês na prisão em Dubai por unicamente ter compartilhado, no facebook, postagem pedindo a doação para comprar cobertores para crianças pobres no Afeganistão. Ele foi libertado, mas ainda corre risco de ficar 11 meses preso, ou ter que pagar uma multa de 100 mil reais. Assim como aconteceu em Dubai, vários países têm elaborado e aplicado novas legislações que restrigem a captação de recursos e o trabalho desses profissionais que fazem da sua missão de vida viabilizar os recursos que garantem que as organizações cumpram suas causas e atinjam o seu impacto. Um dos motivos para que isso aconteça é a tentação totalitária de muitos Estados nacionais, que buscam controlar integralmente o fluxo de recursos financeiros em seus países, inclusive aqueles que são oriundos de doação. De tempos em tempos vemos esses movimentos pelo mundo. Mas há outro motivo importante também, que é a falta do entendimento do papel que a doação exerce para o financiamento das organizações da sociedade civil. Doação não é esmola, não é remendo. Doação não é o último recurso de uma ONG. A doação, na verdade, é o principal meio de financiamento e independência das organizações da sociedade civil em todo o mundo. E que bom termos organizações que não dependem de um ou apenas poucos doadores, mas livres para agir e gerar impacto, e respondendo a dezenas, centenas, milhares de pessoas e outras instituições que nelas acreditam e decidem voluntariamente financiá-las. A doação é o modelo de financiamento que garantirá a sustentabilidade do setor, e os captadores são os profissionais que se especializam em promover essa sustentabilidade a partir do processo estratégico de mobilização de recursos. A doação não é um crime, e pedir uma doação não pode jamais sê-lo também. Nosso apoio a todos os profissionais que, como o Scott Richards, têm tido sua atuação restringida pelo simples ato de promover uma causa. Que não se repita novamente!