Há sinais de melhora nas expectativas, mas a recuperação da economia real continua fraca e incerta. O IBC-Br, índice em que o Banco Central toma a temperatura do país, chegou a zero em abril. Isso é visto como positivo porque não houve queda. O IBGE informou que as vendas do varejo tiveram uma pequena alta, mas o índice do setor de serviços voltou a cair. Assim vai a economia nestes tempos. A confiança do setor de serviços está em alta há três meses seguidos, da mesma forma que em outros setores. Esse humor melhor oscila ao sabor da crise política. No concreto, o retorno com o turismo, por causa da Olimpíada, está abaixo do esperado. A crise política e as sempre surpreendentes revelações da Lava-Jato mobilizam os olhares na maior parte do tempo. A economia aparece no radar quando o novo governo toma alguma iniciativa ou um dado é divulgado. O setor de serviços caiu 4,5% em abril, contra 2015. Qualquer dado comparado ao mesmo mês do ano anterior mostra queda. Aconteceu também com as vendas de varejo. Elas subiram em meio ponto percentual entre março e abril, mas a queda em relação a 2015 é de 6,7%. O Brasil está com melhoras pontuais. O quadro geral, porém, ainda é de recessão severa. O setor de serviços é o principal componente do PIB, pelo lado da oferta, superando a indústria e a agricultura na geração de riqueza, emprego e renda. Para se ter uma ideia, enquanto os serviços são cerca de 70% do PIB, a indústria representa em torno de 20%, e a agricultura, 10%. O IBGE mostra um quadro de quedas generalizadas entre os seus subsetores. Ao mesmo tempo, as sondagens feitas pela FGV apontaram aumento da confiança entre março e maio, chegando ao maior patamar desde julho do ano passado. Já a Confederação Nacional do Comércio, Serviços e Turismo (CNC) ainda não viu melhora no curto prazo e tem uma projeção de queda de 4,2% para o setor este ano. A economia está entre a recessão e alguns sinais de recuperação da confiança. O vice-presidente da CNC Laécio Oliveira conta que o setor de serviços é o primeiro a se recuperar em tempos de crise, mas os sinais são muito ruins. Segundo ele, nos últimos seis meses cerca de 100 mil estabelecimentos de comércio foram fechados no país, com forte impacto no emprego. — No segmento de bares e restaurantes, que responde muito rápido à volta da confiança e da renda, percebemos que a economia continua descendo a ladeira. O segmento de serviços terceirizados também continua perdendo muito e é outro bom termômetro — disse. O presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Alexandre Sampaio, conta que a ocupação dos quartos de hotéis no Rio ficou em 42% em maio, contra 57% do mesmo mês do ano passado. A tendência é de ocupação máxima no período dos Jogos. — Quem fez reserva para os Jogos já adiantou parte da receita aos hotéis, e a baixa ocupação neste momento está afetando muito o fluxo de caixa. Ao mesmo tempo, os empréstimos para capital de giro têm taxas elevadíssimas. O brasileiro viaja menos por causa da crise, e o turista internacional está com medo do vírus zika. Sampaio avalia que faltou investimentos em propaganda fora do país e em desburocratização para a emissão de vistos para europeus e chineses. Para piorar, as notícias sobre a zika, o aumento da violência no Rio e o não cumprimento de compromissos, como a despoluição da Baía da Guanabara, tiveram um impacto muito negativo no exterior. — Perdemos por duas vezes o cavalo selado que passou na nossa frente. Primeiro, com a Copa do Mundo, e agora com as Olimpíadas. Os ganhos com a Copa do Mundo ficaram aquém, e infelizmente estamos caminhando na mesma situação para a Olimpíada. O setor de hotéis, bares e alimentação já fechou mais de 100 mil postos de trabalho. Depois de um ano de estagnação, em 2015, a previsão é de queda de 18% na arrecadação. Os números do Caged mostram fechamento de 200 mil empregos formais no comércio, de janeiro a abril deste ano, e fechamento de mais 50 mil em outros setores de serviços, como de alimentação, hospedagem, financeiro, transporte e comunicações. Há sinais de melhora, mas são poucos. E, em geral, nos indicadores de confiança no futuro. O fim deste inverno ainda demora. POR MÍRIAM LEITÃO EM 18/06/2016 [caption id="attachment_5051" align="alignnone" width="500"] Alexandre Sampaio Presidente da FBHA[/caption]