Deputados deveriam estudar mais economia do turismo

Publicado por Marco Navega em 12 de março de 2015
Algumas notícias nos deixam injuriados. Não faz muito tempo, li que deputados estavam recusando o cargo de Ministro do Turismo porque se tratava de uma pasta de pouca relevância e mixuruca, e por isso não atendiam aos seus objetivos de representar ministérios endinheirados. Ok... Já sabemos que os nossos políticos #nãonosrepresentam. No entanto, o que falar quando vemos o degrado “moral” de um dos setores econômicos mais importantes do mundo?! O que falar quando nos salta aos olhos o pouco caso e pior, a ignorância, dos nossos governantes quanto ao maior potencial de riqueza do nosso Brasilzão de dimensões continentais?!
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Imagino que eles saibam que o Brasil é uma das nações mais multiculturais e etnicamente diversas, e que isso lhe proporciona uma imensa riqueza e diversidade cultural, entretanto, suponho que o que eles não sabem é que o Brasil é uma mina de turismo e que turismo é uma mina de recursos financeiros e sociais.
Eles precisam é estudar um pouco de economia do turismo, pois é evidente a sua importância para o fortalecimento e reposicionamento das atuais economias. O setor econômico do turismo representa um dos setores mais significativo e estrategicamente mais relevante para o desenvolvimento de longo prazo. Não é a toa que, cada vez mais, o mundo como um todo começa a visualizar a importância do turismo como meio de desenvolvimento econômico e inclusão social. O que falta aos nossos deputados e aos demais governantes é o entendimento das razões dessa atuação mundial.
Com a criação, em 1974, da Organização Mundial de Turismo (OMT), vários países começaram a interpretar o turismo como forma de captação de divisas, passando a ter importância na economia de modo geral.
A economia do turismo estuda a origem e a formação do valor turístico, assim como sua transformação em renda, medida pela produção e pelo consumo, e a forma como esta se distribui na sociedade. O turismo está totalmente ligado à economia e em diversas áreas deste setor.
O setor do turismo é um dos maiores responsáveis pela geração de empregos e a sua contribuição junto ao PIB é cada vez mais significativa.
Mesmo não sendo um setor econômico independente, fato que torna difícil determinar diretamente geração de emprego a partir da oferta, é notável a contribuição do turismo para o emprego. Pelo fato de estar no setor terciário o turismo é uma atividade que demanda muita mão de obra, gerando assim empregos diretos, induzidos e indiretos*. As receitas ou as exportações turísticas favorecem o aumento da riqueza e da prosperidade nacional, é evidente que os turistas contribuem para a melhoria do nível de vida da população do país visitado. Parte de sua grande relevância está no efeito multiplicador, o qual atinge diversos setores de diversas áreas dentro e fora daatividade turística, aumentando a geração de novos empregos e de renda.
Efeito multiplicador é o efeito provocado pelo gasto dos turistas, em bens e serviços consumidos na localidade visitada. Ele pode ser avaliado pelo grau por meio do qual o dinheiro gasto pelos turistas permanece na região, para ser reciclado por meio da economia local. É possível medir o efeito multiplicador do turismo de duas maneiras distintas: uma é enfocando a venda dos produtos (o gasto inicial do turista); outra é a partir da contribuição desse gasto para a receita nacional.
De forma mais ilustrativa pode-se dizer que parte do que os turistas pagam em hotéis, restaurantes e lazer, é destinado entre outros gastos, para os salários dos empregados, que por sua vez pagam aluguéis, transporte, educação, compras. Normalmente, esse valor agregado é bem maior que a soma inicialmente gasta pelos turistas.
Aqui se esbarra com outro importante aspecto do turismo – a distribuição de renda. O turismo além de contribuir para um melhor equilíbrio regional contribui também para um maior equilíbrio intersetorial (transferência de renda gera-
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da pelo turismo ao setor primário, secundário e terciário) e interpessoal (de um lado, os maiores consumidores são os de renda mais elevada, e, de outro, as regiões receptoras são em grande parte, regiões menos desenvolvidas, de nível inferior de renda média). E mais! (Isso os deputados e todos os governantes, se soubessem, iriam amar) Como o turismo é uma atividade econômica, ele esta sujeito à tributação e por isso contribui para as receitas fiscais do Estado e outras entidades autônomas, como os órgãos locais e regionais de turismo. Assim, o turismo também contribui para a formação de receitas públicas. O benefício econômico, que resulta das receitas arrecadadas pelo Estado, concentra-se nos impostos que são cobrados diretamente sobre os rendimentos originados no processo produtivo e no consumo dos turistas e nos impostos que são arrecadados indiretamente por outras atividades cuja produção é determinada pelo turismo em virtude das inter-relações que com ele estabelecem.
Alguns exemplos de impostos que incidem sobre o turismo:
Incidências sobre o consumo dos turistas
Impostos e taxas incidentes sobre bens e serviços:
  • Taxas de aeroporto;
  • Taxa de Turismo - Room Tax;
  • Impostos alfandegários;
  • Taxas devidas pelas emissões de passaporte e vistos;
  • Impostos que incidem sobre as importações que se realizam para a satisfação de necessidades imediatas dos turistas, etc.
Incidências sobre transações e rendimentos gerados pelo processo produtivo do turismo
Impostos Diretos:
  • Sobre o rendimento das pessoas físicas;
  • Sobre o rendimento das sociedades.
Impostos Indiretos:
  • Ligados à produção;
  • Ligados à importação.
Mesmo desconhecendo o valor desses impostos*, pode-se afirmar que o turismo contribui para as receitas fiscais, transformando-se em uma base estável para o funcionamento do Estado. São grandes as despesas dos Estados com o turismo, principalmente em infraestrutura turística, porém os residentes passam a ser os principais beneficiários dessas infraestruturas. De tal modo o turismo suporta as suas próprias necessidades em gastos públicos e ainda contribui para outros fins do Estado. Outra grande característica do turismo é o seu impacto sobre o PIB - PRODUTO INTERNO BRUTO*. O cálculo do PIB do turismo é um pouco mais complicado*, mas mesmo com as dificuldades existentes o turismo é computado no setor de serviços, da produção nacional de todos os países. Ele pode ser calculado a preços de mercado por meio da demanda agregada do turismo, dessa forma, calcula-se o consumo turístico, os investimentos realizados para a produção de bens e serviços, os gastos dos governos com o turismo, as exportações (receptivo) e as importações (emissivo).
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São muitos os fatores que podem ser utilizados para completar a análise dos efeitos do turismo além dos aqui citados. Como por exemplo, a Balança Turística, que registra as trocas da renda nacional pela consequência de viagens entre dois países que tem relações de serviços e bens no país pelo qual ira receber, ou ainda, para saber qual o valor dos gastos do turismo, deve-se consultar a Balança de
Pagamentos, na qual constam às despesas e as receitas obtidas naquele ano, dando um saldo positivo ou negativo na conta do turismo do determinado país. Se houver um volume de demanda do turismo receptor maior que o emissor, a conta internacional do turismo será positiva, ocorrendo ingresso de moedas fortes no país*.
Sim, entender tudo isso é um pouco complicado. Contudo eles (nossos deputados e demais governantes) deveriam ao menos se questionar sobre dois pontos fundamentais:
  1. O que faz do turismo uma atividade visada pelo poder publico e privado de diversos países que competem sistematicamente entre si no objetivo de atrair mais turistas?
  2. Por que isso tudo também deveria atiçá-los?!
Bem, eis alguns pontos que explicam o grande interesse dos outros países por essa atividade:
  • O aumento no consumo dos turistas, sejam eles domésticos ou internacionais, tem relevantes impactos sobre: a geração de empregos e renda;
  • Os seus resultados indicam uma significativa participação do turismo no PIB nacional;
  • O turismo internacional constitui importante gerador de divisas para o país, sendo assim, decisivo na balança comercial dos países, especialmente aqueles mais progressistas no setor; Tem amplo espaço para crescimento;
  • Desenvolve-se em pequenas, médias e grandes cidades;
  • Não degrada o meio ambiente em intensidade como outras atividades (industriais, petrolíferas, etc.).
O turismo representa a grande possibilidade de renascimento econômico para os países em crise e em desenvolvimento, é inegável a sua importância para o fortalecimento e reposicionamento das atuais economias.
Por tudo isso, o setor econômico do turismo deveria constar como parte fundamental na agenda política do nosso país, como uma peça chave do desenvolvimento econômico, através do desenvolvimento de políticas públicas focadas, na promoção, no planejamento e na comercialização.
Se até mesmo para os grandes players mundiais ainda existe um enorme potencial inexplorado, imaginem para o Brasil!
No entanto, (é sempre importante salientar) a política para o desenvolvimento turístico precisa ser estruturada através de um processo participativo, ou seja, com envolvimento de agentes públicos e privados, de modo queas medidas e as prioridades sejam sensíveis às reais necessidades do setor. E, não por menos, todo esse esforço deverá ser direcionado no sentido de identificar no turismo um responsável para o crescimento da nossa nação numa perspectiva de curto, médio, mas principalmente longo prazo. Meus caros governantes... Hello!! A importância deste setor é mais desafiadora do que nunca para inspirar ações e intervenções! *** *Entende-se por empregos diretos aqueles serviços prestados diretamente ao turista; empregos induzidos, serviços que resultam do desenvolvimento da atividade turística (algo planejado, ocorre antes) e empregos indiretos, serviços criados pelo turismo, que surgem a partir da renda obtida pelas atividades produtivas dos residentes locais (o turista gasta, e o dinheiro que ele pagou vai ser o salário de diversas áreas). *Digo que estes valores são desconhecidos porque eu não fiz um levantamento a respeito. Certamente existem métricas que permitem a mensuração dos mesmos. *O PIB é a somatória de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional, num dado período. Esta somatória não leva em consideração se os fatores de produção são de propriedade de residentes ou não residentes. *Exemplos de fatores, de difícil cálculo, que compõem o consumo turístico: Beleza dos recursos naturais; Economia informal (que não aparece em nenhum registro); Famílias que viajam com seu próprio carro e se hospedam em casas de amigos e parentes; Gastos do turista que não são registrados (farmácia, postos de gasolina, máquinas fotográficas,...); Bens e serviços de outras atividades que são computados nos seus devidos setores e ramos (agricultura, bebidas, artesanatos, móveis, construção civil e outros). *Vale salientar que nenhum desses métodos permite uma avaliação rigorosa por não identificar a totalidade das transações que envolvem o turismo.
Fonte: WWW.TEMPOSDEGESTÃO.COM.BR